
Eu nasci num dia 21, mas em Março de 1974 e não acho que isso seja um fato aleatório. A data tem, para minha geração, um significado que vai além da foto que ilustra este post, ela é poética, quase mítica. Cresci vendo meus pais, tios e primos mais velhos falando deste jogo, deste dia, desta seleção, que sei desde cedo escalar do goleiro ao ( falso ) ponta-esquerda:
Félix ( Fluminense ); Carlos Alberto Torres ( o "Capita", Santos ), Piazza ( Cruzeiro ), Brito ( Vasco ) e Everaldo ( Grêmio ); Clodoaldo ( o Corró, Santos ), Gérson ( o Canhotinha de Ouro, Botafogo ). Pelé ( Santos ) Jairzinho ( Botafogo ), Tostão ( Cruzeiro ) e Rivelino ( Corinthians ).
11 nomes que jamais saíram da minha mente. 11 míticos jogadores, que para muitos compõem a melhor Seleção de todas as Copas. Dentre as campeãs ( deixando fora Hungria em 54 e Holanda em 74 ), apenas a de 1958 - por ter Garrincha e Didi - entra na discussão. Foi o primeiro campeão somente com vitórias, o primeiro tri e o primeiro a vencer com todo o planeta assistindo, inclusive o Brasil.
Muita coisa pode ser dita daquele time, de bom e até de ruim. Como por exemplo o não envolvimento na questão da Ditadura Militar vigente a época, que matava e maltratava seus cidadãos. Ou que três meses antes o comandante daquela equipe, o imortal João Saldanha ( o João sem Medo ) fora retirado do posto para que o sempre metido nas estruturas do poder, Zagallo, pudesse apenas aparecer na foto.
O fato inconteste é que aquele time derrubou os ingleses, numa das melhores partidas das história, não somente das Copas, exorcizou o fantasma de 1950 ao virar pra cima do Uruguai e de quebra ainda foi o primeiro time a sair na frente e vencer uma Copa, feito poucas vezes repetido depois de 1970. Até então, sair na frente significava tomar a virada e ser vice-campeão, como o próprio Brasil sofrera 20 anos antes no Maracanã.
Foi uma Copa estupenda de Pelé, no auge de sua forma física e técnica aos 30 anos. Mas não menos espetacular foi Jairzinho, o primeiro a marcar em todos os jogos de uma Copa com pelo menos seis partidas. Ou de Gérson e seu lançamentos precisos. E o que falar da Patada Atômica de Roberto Rivelino? Ainda tivemos Brito, o pulmão de aço que foi o melhor preparo físico daquela Copa. Clodoaldo marcando demais e empatando um jogo que já parecia perdido contra o Uruguai. E ainda tivemos Tostão jogando o fino.
Mas é de Carlos Alberto Torres, que ao lado de Everaldo e Félix já nos deixou, que eu não esqueço. Ele, um dos 2 melhores laterais direitos da história ao lado de Djalma Santos ), que comemora o quarto gol. Existe toda uma lenda por trás deste gol, de que Aimoré Moreira desenhara a jogada num guardanapo na véspera, até que eles treinaram a jogada no reconhecimento no Estádio Asteca ( Brasil fez até a semi-final no Jalisco de Guadalajara ). Mito, verdade ou apenas coincidência é fato que a jogada toda, começada por Clodoaldo, passando por Rivelino até chegar em Jair, com Tostão apontando a Pelé a chegada de Carlos Alberto, tudo aconteceu como num passe de mágica.
Detalhe é que quando Carlos Alberto Torres arma o chute a bola sobe miraculosamente, como que se ajeitando para o que ela já sabia que iria acontecer. O resto, é festa. comemoração e um dia histórico. Por isso é que eu não em encantei com o time pavoroso do Tetra ou do time capenga de 2002 no Penta. A minha geração cresceu sob a égide do melhor futebol do Mundo. E jamais aceitaremos nada menos do que aquilo. Que na Seleção, o mais perto que pude ver foi em terras Espanholas... mas isso é uma outra história...
Voltando a Carlos Alberto Torres: seu gol é o retrato mais perfeito do que pode ser um time de futebol. Ele que minutos depois levantou em definitivo a Jules Rimet, fez apenas aquela Copa. Mas mais perfeito não seria se tivesse jogado 5. Ele está marcado pra sempre na História. E aquele gol é sua obra prima, que me fez amar o futebol como amo até hoje. Mesmo tendo nascido 3 anos e 9 meses depois. Mas pelas obras do destino, num dia 21...
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